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Pelo quarto ano consecutivo, agricultores gaúchos colhem abaixo do potencial devido à estiagem (Foto Ramoel Berbigier/Augustin)
18 de abril de 2023
O mundo tem fome: esta é a força do agro
Por Helaine Gnoatto Zart
A queda nos preços dos produtos agrícolas brasileiros, especialmente a soja, está causando muita apreensão e, também, especulação. Comentários veiculados via aplicativo de mensagem são fonte de preocupação e desinformação, segundo o analista de mercado, o economista Antônio Sartori. A viagem do presidente Lula à China e os acordos assinados também foram usados como argumentos para os comentários que preveem queda acentuada nos preços das commodities.
Provocado para avaliar uma série de áudios eu circulam, Antônio Sartori foi enfático em dizer que “o mundo tem fome” e precisa da produção agrícola brasileira, a terceira maior do mundo.
—Estão dizendo algumas bobagens, como que a Bolsa de Chicago não será mais referência para os preços das commodities. A China só vai comprar do Brasil fora da bolsa de Chicago se for mais barato. Pensar que vai haver um comércio entre China e Brasil com moedas locais é um sonho utópico—, afirma Sartori.
De acordo com o economista, a China vai continuar sendo o maio comprador mundial de soja, principalmente do Brasil. Os Estados Unidos têm pouca fronteira agrícola para crescer, Argentina, que em condições normais de clima colhe uma safra de 50 milhões de toneladas, este ano, devido à estiagem, está colhendo a metade. O Rio Grande do Sul, que tem potencial para produzir 23 mil toneladas, nos últimos quatro anos colheu 12 em 2020, 19 em 2021, 11 em 2022 e neste ano previsão de 14 milhões de toneladas por conta da catástrofe climática que é o evento la niña.
—Aqui no Sul os produtores não estão vendendo porque a conta não fecha.
Em ternos de Brasil, no ano passado a safra foi de 125 milhões de toneladas e neste ano a previsão é em torno de 150 milhões de toneladas. Os compradores têm informações sobre este grande volume a mais de produto nesta safra recorde que o país está colhendo, sendo o Brasil o maior produtor mundial de soja, seguido dos Estados Unidos que não chega colher 120 milhões de toneladas de soja.
No ano seguinte à pandemia, a China importou 100 milhões de toneladas de soja. No ano passado as importações caíram para 92 milhões de toneladas, por uma questão estratégica e, neste ano, de acordo com relatório do USDA, a previsão é de importar 96 milhões de toneladas de soja.
—Chance zero de a Bolsa de Chicago deixar de ditar os preços da soja. O prêmio negativo que está acontecendo agora no Brasil é consequência da pressão de venda do Centro-Oeste, que está colhendo com boa produtividade. Também porque os fertilizantes estão com a metade do preço do ano passado, estimulando a venda—, avalia Antônio Sartori.
O analista de mercado ainda cita a falta de logística para a safra brasileira que precisaria de uma capacidade de armazenagem de 370 milhões de toneladas, e não tem onde guardar o produto, forçando a venda. Neste momento soja do Centro-Oeste está embarcando no Porto de Rio-Grande, provocando pressão nas vendas e queda nos preços.
—O produtor ouve comentários de pessoas irresponsáveis, que não têm noção de mundo, que não sabe como funciona Chicago. O mundo precisa de alimentos e energia. O Brasil tem potencial, especialmente porque aqui o produtor é competente da porteira para dentro, produz sem subsídio, enquanto que a China gasta R$ 100 bilhões de dólares por ano para subsidiar a agricultura pra os 1,5 bilhão de habitantes, contra 2 bilhões de dólares do orçamento do nosso Ministério da Agricultura e 219 bilhões de dólares do USDA.
—Senhores produtores rurais, não levem em consideração comentário sobre preços. Ninguém entende sobre preço. Preço é consequência de clima, política e de especulação. O agro não acabou. O mundo tem fome e não vai parar de comer—, finaliza Sartori.

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