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Notícias

16 de fevereiro de 2017

Três anos de crise faz economia encolher

Tendência que iniciou no último trimestre de 2014, o desemprego é o mais forte sinal da crise econômica vivida no país. Desde então, os índices cresceram ao pontoo de abalar a confiança dos empreendedores.

Não-Me-Toque, onde a economia cresceu impulsionada pela indústria de máquinas agrícolas e pela produção de grãos e sementes, a crise chegou paulatinamente. Atingiu sua pior fase em 2015 registrando o fechamento de 577 postos de trabalho.

Dados da Fundação Estadual de Economia e Estatísticas levantados a pedido do jornal A Folha mostram que em 2015, mesmo com o maior volume de demissões, havia 6.809 pessoas empregadas em Não-Me-Toque, 401 a mais que em 2016.

Amargando quase 40 meses de queda no faturamento, a maioria das empresas entraram 2017 com o pé no freio, temerosos com o futuro. Muitas fecharam, a maior parte reduziu o número de postos de trabalho, ação que ficou entre as primeiras no corte de despesas. Para sobreviver, todos cortaram custos promovendo demissões, renegociando aluguel, planos de telefonia, cortando investimentos.

 

Varejo é o mais afetado

O comércio lojista foi um dos mais afetados. Andando pelo centro da cidade é possível observar salas vazias, resultado do encerramento de atividades ou mudança de endereço. A Beija-Flor é um exemplo de como o número de empregos foi afetado. A proprietária, Talytha Roehe disse que a loja que soma 43 anos de atividades chegou a ter cinco vendedoras e hoje mantém apenas uma.

- Decidi remodelar a loja, mudando o perfil dos produtos e aproveitei para reduzir o quadro de funcionários. Fiz na hora certa. As medidas deram uma sobrevida ao negócio -  avalia.

Na vizinhança de Talytha, lojas de confecções e cosméticos também demitiram. As proprietárias trabalham sozinhas. Os serviços de banco realizam no horário do almoço e quando preisam sair, fecham as portas.

Em plena recessão, o Brasil encerrou o ano de 2016 com o corte de 1,32 milhão de vagas formais, mostram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados no último dia 20 pelo Ministério do Trabalho. O número, porém, é inferior ao de 2015, quando 1,54 milhão de postos com carteira assinada foram eliminados.

No Rio Grande do Sul, foram 54,3 mil demissões a mais, descontadas as contratações em 2016. Um ano antes, foram 95,1 mil empregos a menos. Foi o pior resultado desde que o levantamento começou a ser feito. De acordo com o IBGE, o número total de desempregados no Brasil chega a 12,3 milhões.

No país, nenhum setor encerrou o ano 2016 com resultado positivo. O pior desempenho ficou com o setor de serviços, seguido da construção civil, indústria e comércio.

De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Rio Grande do Sul, no ano passado a atividade mais afetada foi novamente a indústria, com 26,4 mil empregos eliminados. O setor de serviços perdeu 13,2 mil vagas, a construção civil 10,3 mil e, o comércio, 5,3 mil. O melhor resultado veio da agropecuária, que criou 1,4 mil empregos com carteira assinada. A administração pública também chegou ao final de 2016 com saldo positivo de 466 contratações.

Em matéria do jornal Zero Hora (17 de agosto de 2016), o professor de Economia do Trabalho na UFRGS, Giácomo Balbinotto Neto, avalia que a crise agravou com o processo de afastamento de Dilma Rousseff, e a indefinição do que seria o governo de Michel Temer. O economista previu o crescimento do desemprego até o segundo trimestre de 2017.

Desde janeiro de 2014 a novembro de 2016, oito dos 12 setores analisados pelo Caged mais demitiram do que contrataram.

Região central de Não-Me-Toque tem diversos pontos comerciais desocupados
Região central de Não-Me-Toque tem diversos pontos comerciais desocupados

 

Importância da indústria de máquinas agrícolas

Dos 6.408 empregos disponibilizados através do sistema de carteira assinada (CLT) em Não-Me-Toque, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), 3.135 (49%) vêm da indústria de máquinas e equipamentos para a agricultura.

O comércio atacadista de grãos é o segundo maior empregador, com 406 postos de trabalho ocupado, seguido do comércio de alimentos para animais (235 postos de trabalho), comércio varejista de mercadorias em geral (226), atividade de atendimento hospitalar (112), construção civil (111), transporte rodoviário (101).

Os números são referentes ao ano de 2016 e mostram que as demissões aumentaram em relação a 2015 no setor de máquinas agrícolas.  Em dois anos foram 672 vagas a menos. O setor de criação de aves fechou 110 postos de trabalhos nos dois últimos anos e o comércio varejista de artigos de vestuário vem em seguida, com 23.

Somando todos os setores que contratam pela CLT, foram reduzidos 978 empregos em dois anos: 577 no ano de 2015 e 401 em 2016.

A maior variação para mais foi no setor de comércio atacadista de soja, que abriu 12 vagas em 2015 e 66 vagas em 2016.

No comércio varejista especializado em eletrodomésticos foram 14 postos de trabalho a menos; restaurantes e estabelecimentos de serviços de alimentação foram 29 a menos; emprego doméstico para prédios e domicílios fechou 13 vagas.

Em Não-Me-Toque, 49% dos empregos com carteira assinada estão na indústria de máquinas agrícolas
Em Não-Me-Toque, 49% dos empregos com carteira assinada estão na indústria de máquinas agrícolas

 

Mercado agrícola aponta para reação

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, falando para a Zero Hora em 13 de janeiro, disse que a economia chegou ao fundo do poço e deve começar a melhorar em 2017. Mas o crescimento será pequeno e não vai recuperar todas as perdas que o setor de máquinas teve.

Em três anos seguidos da crise, a indústria gaúcha perdeu quase um quinto da produção e eliminou mais de 80 mil postos de trabalho.

Segmento do qual o Rio Grande do Sul detém mais da metade da produção nacional, a indústria de máquinas e implementos agrícolas acena com uma reação. O otimismo tímido no ar se dá em função do bom preço das commodities agrícolas e a previsão de mais uma safra cheia.

Em Não-Me-Toque, o setor demitiu 972 pessoas nos dois últimos anos, mas o segundo semestre de 2016 começaram a ocorrer contratações.

O diretor-presidente da Stara, empresa que mais emprega em Não-Me-Toque, Gilson Trennepohl, avalia que 2016 marcou o ponto de inflexão da curva de vendas e 2017 tende a ser melhor, embora ainda longe de recuperar o volume de negócios observado em 2012 e 2013.

— As vendas devem crescer em torno de 10%, com o mercado reagindo principalmente a partir do segundo semestre — diz o dirigente da empresa de Não-Me-Toque.

Em um cenário em que fatores como preço dos grãos, volume de safra e crédito não parecem ser problemas para 2017, a expectativa paira sobre o cenário político.

Na Indústria Jan, segunda maior empregadora da cidade, os cortes foram pontuais e a empresa iniciou o ano contratando.

- É o reflexo do pequeno aumento na produção, mas que mostra uma expectativa de reação positiva da economia, bem diferente do início de 2016 – comenta Fabiano Bocasanta, assistente administrativo de RH da Jan.

Segundo Fabiano, o setor recebeu currículos qualificadas no último ano, pessoas de outros estados que ficaram desempregadas na indústria e vieram em busca de oportunidade. No geral, os currículos entregues na Jan são de perfil generalista, muitos de pessoas com ótimos currículos, mas sem conhecimento técnico para a indústria.

Resultados da Coopavel, que termina hoje, vão confirmar reação da economia
Resultados da Coopavel, que termina hoje, vão confirmar reação da economia

 

Mais empresas, menos empregos

Dados do setor de Cadastro da Prefeitura de Não-Me-Toque mostram que, nos dois últimos anos, o número de empresas que abriu supera o volume das que fecharam. Foram registradas 324 novas empresas e 162 encerraram atividades. Mas isso não representa crescimento se comparado com o número de vagas de trabalho.

Em 2015, foram 81 empresas que encerraram atividades, 55 delas com estrutura superior à empresa de pequeno porte (EPP). Grande parte dos que perderam o emprego nestas empresas podem ter migrado para a iniciativa privada, abrindo uma Micro Empresa Individual (MEI). Neste ano foram criadas 98 MEIs.

No ano passado, foram 40 empresas com classificação acima de pequeno porte (EPP) encerrando atividades, contra 48 novas empresas. Dados da Prefeitura apontam que 90 pessoas abriram uma MEI, e 28 fecharam.

 

O quadro mostra o número de empresas que encerraram atividades e que iniciaram nos anos de 2015 e 16.
O quadro mostra o número de empresas que encerraram atividades e que iniciaram nos anos de 2015 e 16.

A Império Negócios Imobiliários é um exemplo de nova empresa. Os sócios Willian Garcia e Juliano Gheno largaram o emprego na Stara para empreender, seu grande sonho. A Império tem dois anos, mais um sócio que atende Carazinho, e gerou uma vaga de emprego, para a secretária.

- Nosso objetivo foi trazer inovação para o ramo imobiliário, para isso trouxemos uma dinâmica de grandes centros – relata Willian.

A partir da Império os sócios criaram a Sustentare, empresa de seguros, e adquiriram a Ampla Imóveis, que emprega três pessoas.

- Nosso objetivo foi trazer inovação para o ramo imobiliário, para isso trouxemos uma dinâmica de grandes centros – relata Willian.

A partir da Império os sócios criaram a Sustentare, empresa de seguros, e adquiriram a Ampla Imóveis, que emprega três pessoas.

 

Apesar de os dados estatísticos apontarem para a redução de postos de trabalho formal, não falta oportunidade para quem quer trabalhar. Pelo menos é o que pensa Verediana de Carvalho, 42 anos de idade. Ela tem um emprego com carteira assinada, é vendedora do bazar do Supermercado Cotrijal, e tem mais três empregos informais: recepcionista no Eventu’s Restaurante no turno do almoço; garçonete no Container Lanches algumas noites; e, ainda, atua em eventos como garçonete.

Verediana de Carvalho
Verediana de Carvalho

- Meus filhos cresceram e eu não gosto de ficar parada, prefiro ser produtiva. Eu acho que em Não-Me-Toque não falta emprego para quem quer trabalhar. No lugar onde sou garçonete, tem vaga, mas quem se apresentou não gostou dos horários – comentou Veridiana.

 

 

 

 

Colaboraram com informações para esta reportagem de Helaine Gnoatto Zart: jornalista Gisele Dotto Reginatto (Fundação Economia e Estatística do RS), jornalista Jaques Petry (Prefeitura de Não-Me-Toque), Escritório Contábil Mosselaar, Escritório Contábil Kowil.

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