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15 de abril de 2023
A falência na missão de líderes religiosos
Por Bruna de Souza
Seguidamente somos surpreendidos com notícias alarmantes envolvendo mestres espirituais. Notícias que nos deixam chocados e frustrados, pois a religião normalmente é o recurso procurado pelos mais fragilizados, por aqueles que muitas vezes até perderam a esperança em outros segmentos da sociedade, e que se percebem evoluindo através do exemplo de um guru. Em muitos casos inclusive, as doutrinas são apresentadas às crianças como sinônimo de proteção e amparo. Quando vem à tona notícias envolvendo estes mestres espirituais consagrados, uma parte no nosso íntimo se torna cética, e mais que isso, traída.
Ao tentar compreender um problema social assim, devemos primeiramente lembrar que estamos rejeitando e condenando o comportamento de outro - ser humano -, falível, assim como nós. Jamais conseguiremos compreender algo se isolarmos indivíduos ou fatos com um abismo entre o “pecador” e nós mesmos.
Como bem sabemos, os escândalos normalmente envolvem a ambição exacerbada ou algum tipo de perversão e abuso sexual. De tal forma que, quem pratica usufrui de sua posição em prol de atos doentios.
Aí fica o questionamento: Existe algo mais carnal, ou seja, mais ligado a matéria do que a ambição e o instinto sexual? Existe algo mais basal do que o instinto de sobrevivência e a necessidade de procriação? Não. Ambos, dinheiro e reprodução estão relacionados às necessidades básicas da perpetuação da espécie e permanência da vida. Mas quando reprimidos, como ocorre com muitos mestres que, a todo custo, procuram converter seus desejos naturais em iluminação, estes podem se tornar doentios, desestruturados e perversos.
Jesus disse que em seus 40 dias no deserto fora tentado diversas vezes. Ser tentado é ser induzido a falência, é ser estimulado, através do desejo, a fracassar na sua missão. Pouquíssimos possuem iluminação suficiente para jamais sucumbirem quando as tarefas são árduas. Raríssimos são os que vieram para ensinar ao invés de aprender.
Não acredito que líderes espirituais que tiveram suas vidas e missões fracassadas começaram suas trajetórias com o intuito de ferir o outro ou ferir a sociedade como um todo. Acredito sim, que houve realmente um propósito nobre, mas que este propósito foi corrompido através de uma mente que adoeceu. A mente doente comete atrocidades porque deixa de reconhecer o propósito, deixa de reconhecer o amor maior, desaprende o sentir e estranha o outro como semelhante.
O que desejamos, com razão, é que a justiça seja devidamente aplicada. Que aquele que errou, compreenda a proporção do erro e responda por seus crimes. Mas ao mesmo tempo que desejamos dessa forma, que possamos criar consciência para reconhecer a falência como característica humana, silenciando a parte da nossa mente que também se torna doente pela raiva e pelo ódio, para dar assim espaço para que enxerguemos os fatos assim como são. Com a mente consciente e saudável.
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